O pão é um alimento tradicional e o mais antigo na mesa de toda família, juntamente com o café e o leite, serve de sustento a milhares de pessoas no mundo inteiro. É a preferência nacional que encontramos em diversos sabores e formas acompanhados de um recheio ou não.
Meus pais e seu sócio eram proprietários da Padaria Santa Cruz conhecida e apreciada pelas pessoas no bairro do mesmo nome, localizada na Rua 7 com a Avenida 10, dava para sentir o cheiro de pão fresco a algumas quadras dali por estar na baixada próximo a Igreja Santa Cruz.
Eu era privilegiado por poder tomar o café com um pão quentinho saído do forno na hora, para depois começar a caminhada a passos largos em direção ao colégio Joaquim Ribeiro, onde estudei no ginasial e o colegial (bem antigo, hein?). E me frustrava quando perdendo hora não dava tempo para esse momento especial.
Nunca fiz um pão, mas me emociona só de lembrar o pão caseiro que minha mãe fazia. Ela passava a maior parte do dia administrando a Padaria, mas sempre encontrava um tempo para fazer aquele pão caseiro, a receita de minha avó materna.
Acompanhei algumas vezes a minha mãe fazendo o pão. A receita já sabia na ponta da língua, o papel meio amassado da página do caderno de receita já se encontrava um pouco amarelado pelo tempo, mas na sua cabeça ainda estava nítida e atual. A quantidade de trigo, a água, o sal e o fermento na medida certa. O tempo de crescer a massa para, finalmente, levar ao forno, era mesmo um magnífico ritual.
E eu percebi e aprendi com o tempo que para se fazer um pão era necessário um estado de espírito elevado, uma sensibilidade apurada para reunir todos esses ingredientes e uma porcentagem muito grande de afeto, de respeito e admiração à história da humanidade que até hoje embora a escala industrial seja a maioria, nem se compara com o pão feito em casa, não é?
O pão sempre foi generoso para minha família e outras famílias que aprenderam a fazê-lo manualmente, parece que sempre há um jeito diferente de apresentá-lo e nem por isso deixa de arremessar-nos ao passado.
E com muitas pessoas que, assim como eu, sentiram em algum momento de sua jornada a necessidade de se reinventar, fazer um pão pode trazer uma grande lição de paciência, de dedicação e amor, de poder presentear ao outro com o alimento que há 14 mil anos começou a ser feito e assado em pedras.
Como ser humano aprendi que não consigo administrar tudo e quando recordo de minha estimada mãe fazendo seu tradicional pão caseiro, me resta a lição de que o tempo, a paciência e o amor, podem ressignificar tudo na vida e reposicionar-nos a qualquer momento renovados diante do mundo.
Pense nisso!