O coordenador do curso de medicina do Claretiano Centro Universitário, Jair Verginio Jr., falou sobre o tempo de atendimento médico, destacou algumas deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), mas enfatizou que o modelo do sistema é positivo. No entanto, ele reforçou que influências políticas acabam prejudicando o funcionamento do serviço. Verginio é pneumologista e gerente da atenção básica de Rio Claro. Confira a entrevista.
Diário do Rio Claro: Qual o tempo médio para o atendimento da primeira consulta?
Jair Verginio Jr.: Primeiro, vamos esclarecer que não existe um tempo pré-determinado para a realização de uma consulta médica, existindo um parecer do Conselho Federal de Medicina orientando que “o profissional deve ater-se ao cumprimento dos princípios éticos, agindo com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”.
De uma forma geral, para a abordagem ideal em uma primeira consulta, o tempo mínimo para obter todas as informações necessárias com o paciente, fazer um exame físico e o orientar adequadamente sobre exames a serem solicitados e possíveis tratamentos, não pode ser inferior a 30 minutos.
Este é um problema discutido no mundo todo e existe uma publicação em uma renomada revista médica, o British Medical Journal, onde foram encontrados tempos variados, de 48 segundos a 23 minutos, mas nos países com um melhor nível de desenvolvimento, como na Escandinávia e nos EUA, foi em torno de 20 minutos. Outros estudos, inclusive nacionais, mostram atendimentos variando em torno dos dez minutos.
Diário do Rio Claro: A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza um tempo mínimo?
Jair Verginio Jr.: A OMS não preconiza um tempo mínimo para consulta, mas que ela seja suficiente para a melhor resolução possível do problema que acomete o paciente.
Diário do Rio Claro: Quantos atendimentos um profissional de medicina (um generalista, por exemplo) consegue atender por dia?
Jair Verginio Jr.: Não existe esta limitação e, dependendo da unidade de atendimento, seja ela clínica particular, consultório com convênios, no SUS ou unidades de pronto atendimentos, acabam sendo determinados pela demanda, o que causa uma insatisfação do paciente e um estresse para o médico.
Diário do Rio Claro: Quais os principais problemas detectados pelos médicos em geral no SUS?
Jair Verginio Jr.: Existe um conjunto de fatores que afeta o bom funcionamento do SUS, como a falta de condições para o trabalho em determinados locais, a deficiência na informatização e integração dos serviços, profissionais desqualificados, falta de profissionais, longo tempo de espera, falta de leitos, má administração financeira e de serviços.
Diário do Rio Claro: O SUS, na sua opinião, é o melhor modelo de saúde pública?
Jair Verginio Jr.: Sim, ele tem um excelente desenho, mas a influência política, muitas vezes negativa, e falta de programas de saúde que possam auxiliar a sua plena implantação, seu devido financiamento e desenvolvimento, o transformam em um grande sofrimento à população.
Diário do Rio Claro: A gestão pode ser considerada a principal dificuldade do SUS?
Jair Verginio Jr.: Sim, é necessário estabelecer as metas e obrigações entre os entes federativos para uma adequada gestão ou continuaremos com a falta de recursos e implementações dos programas que levem ao total desenvolvimento e fortalecimento da Atenção Básica de Saúde e das Redes de Atenção à Saúde, que acabam fragmentando os serviços e recursos do SUS, dificultando o acesso e a resolubilidade a ele destinados.
Diário do Rio Claro: Quais outras informações que o senhor considera relevantes?
Jair Verginio Jr.: Devemos dar a maior ênfase possível à Atenção Básica de Saúde e às suas várias estratégias de atendimento e, para isso, é necessário esclarecer a população e todos os atores envolvidos nos diferentes setores sobre como eles devem funcionar para conseguir resolver quase 80% dos problemas de saúde da população e ser a porta de entrada do SUS.