Eduardo Lima
Sem fiança, sem conversa. O Senado aprovou projeto que proíbe fiança em crimes de pedofilia. Decisão unânime, 15 a 0. Finalmente, um placar no Congresso que não deixa dúvida: se o crime é covarde, a resposta também deve ser dura. Resta saber se, além da lei, o Estado terá coragem de aplicar pena rápida e eficaz — porque, como bem sabemos, na Justiça brasileira até a fila do cafezinho anda mais depressa.

PEC da Segurança: a PRF virou Uber? A nova PEC quer transformar a Polícia Rodoviária Federal em Polícia Viária Federal, com poder para atuar em rodovias, ferrovias, hidrovias e, quem sabe, futuramente até em ciclovias. Se der certo, o próximo passo será chamar os agentes de “Polícia do Waze”. O brasileiro só espera que, além de expandir o nome, a eficiência também se expanda.
PEC da Segurança: debate técnico ou marketing político? Hugo Motta anunciou a comissão especial da PEC da Segurança. Presidência com Aluisio Mendes, relatoria com Mendonça Filho. Tudo muito “técnico e qualificado”, segundo ele. O curioso é que, em Brasília, quanto mais se fala em “técnico”, mais cheiro de arranjo político no ar. A PRF vai ganhar nome novo — Polícia Viária Federal — e função de polícia ostensiva. Se o Congresso mantiver o ritmo, logo teremos a Polícia Marítima de Lagoa, a Polícia Ciclovia Federal e, quem sabe, a Polícia Pista de Cooper.
União Progressista: unidos até certo ponto. União Brasil e Progressistas resolveram sair do governo Lula. A federação “União Progressista” mostrou que nem tão unida, nem tão progressista assim. O aviso foi claro: quem insistir em cargos federais vai rodar. Para os ministros da federação, a dúvida é cruel: largar a boquinha ou a legenda? Difícil é explicar ao eleitor como partidos que estavam no poder até ontem acordaram, de repente, oposicionistas convictos.

Lula, Bolsonaro e o STF: tribunal do destino. Enquanto Bolsonaro se defende de acusação de tentativa de golpe, Lula aproveitou para filosofar: “Eu não chorei, fui à luta”. Mas não foi bem isso o que vimos, com odo aquele circo midiático armado antes da prisão. E o STF, com 70 terabytes de provas, segue em ritmo de novela da Globo: capítulos diários, advogados em longos discursos e réus que juram inocência até quando são pegos com a faca e o queijo — e a ata da reunião.

Anistia: perdão seletivo. Na Câmara, discute-se uma “anistia parcial” para os eventos de 8 de janeiro. A ideia é perdoar a “infantaria”, mas não os generais da bagunça. Os bolsonaristas, claro, querem anistia para todo mundo, inclusive para o capitão. No fim, o risco é transformar o Congresso em uma espécie de confessionário político: uns rezam, outros fingem arrependimento, e todos esperam sair absolvidos.
Desfile de 7 de Setembro: Brasil Soberano. O tema do desfile é “Brasil Soberano”. Entre a Esquadrilha da Fumaça e a pirâmide humana, o governo aproveita para mandar recados sobre clima, PAC e COP30. Se sobrar espaço, talvez desfile também o “Brasil do Déficit Fiscal” — mas esse ninguém quer aplaudir da arquibancada.

PIB em alta, paciência em baixa. O Brasil cresceu 0,4% no segundo trimestre. Estamos em sexto lugar no G20. Parece ótimo, até lembrarmos que, enquanto isso, a fila do SUS, o preço da carne e o transporte público continuam crescendo em ritmo bem mais acelerado. PIB positivo é bom, mas melhora de vida é ainda melhor — e essa a gente não encontra no relatório do IBGE.
STF em modo novela. O julgamento de Bolsonaro no Supremo foi suspenso e volta só na terça-feira. O roteiro já lembra série de streaming: tem vilão, generais arrependidos, delatores contraditórios e advogados dizendo que faltam provas. O detalhe é que a “temporada” tem oito episódios e pode acabar com penas de mais de 30 anos. Suspense não falta, pipoca também não.
Lula no velório, mas mirando o STF. No adeus a Mino Carta, Lula não perdeu a chance de cutucar Bolsonaro. Disse esperar que a Justiça seja feita e lembrou que ele próprio foi condenado sem tempo de defesa. Traduzindo: nem no velório do amigo, Lula tira rival do pensamento.
Anistia: Centrão reza, bolsonaristas pressionam. A ideia de perdoar apenas a “infantaria” do 8 de janeiro não agrada ao PL. Sóstenes Cavalcante deixou claro: sem Bolsonaro, não tem perdão. Já o Senado, com Alcolumbre, promete travar qualquer anistia ampla. Brasília virou altar: uns pedem absolvição geral, outros querem penitência seletiva. No fim, o risco é todo mundo sair excomungado.
Tarcísio no jogo grande. O governador de São Paulo assumiu protagonismo nas articulações em Brasília. Conseguiu mobilizar Republicanos, influenciou União e PP a se afastarem do governo e ainda ajudou a empurrar a pauta da anistia. Tarcísio, que muitos chamavam de “herdeiro tímido” de Bolsonaro, mostra que sabe falar alto no centrão — e em voz própria.
Seleção: ataque para frente, defesa com fé. Ancelotti escalou quatro atacantes contra o Chile. A torcida aplaude, mas já teme: se a defesa der mole, o Maracanã pode virar palco de sofrência. O técnico promete equilíbrio, mas o brasileiro sabe que, quando a amarelinha joga com quatro na frente, é sempre 8 ou 80.
Yago Dora na crista da onda. O surfe brasileiro conquistou mais um título mundial com Yago Dora. Foi a oitava vez que o troféu veio para o Brasil. Entre crises políticas, golpes frustrados e anistias discutíveis, ao menos no mar ninguém questiona: o Brasil é, sim, uma potência.

PIB cresce, bolso continua magro. O IBGE anunciou: PIB subiu 0,4% e o Brasil é o sexto do G20 em crescimento. Mas na padaria, o pãozinho segue subindo bem mais rápido. No fundo, o brasileiro não quer relatório técnico, quer carne mais barata, fila menor e ônibus menos lotado. Se o PIB fosse um produto de mercado, a pergunta seria: dá para parcelar em 10 vezes sem juros?
Julgamento no STF
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
União Brasil e PP
Foto: Reprodução/União na Câmara
Desfile 7 de Setembro
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Yago Dora
Foto: Ed Sloane/World Surf League