Fim da festa: crise fiscal em cidades paulistas
Nos primeiros dias de 2025, prefeitos de cidades como Itu, Araras, Piracicaba e Limeira enfrentaram o desafio de administrar finanças municipais abaladas por gestões anteriores. Medidas emergenciais, como suspensão de pagamentos a fornecedores, congelamento de licitações e a criação de gabinetes de crise, refletem tentativas de reorganizar as finanças e evitar colapsos fiscais, mas também geram debates sobre sua eficácia e transparência.
Em Itu, o prefeito Herculano Passos criou, em 2 de janeiro, um Gabinete de Gestão de Crise para reestruturar a cidade. Ele destacou a falta de informações e a dívida deixada pela gestão anterior, prometendo intensificar os esforços para regularizar a situação. No entanto, a medida foi recebida com cautela pela população, temerosa quanto aos impactos das decisões.
Em Araras, o prefeito Irineu Maretto anunciou a suspensão de pagamentos a fornecedores e subvenções por 120 dias para avaliar a situação financeira da prefeitura. Maretto justificou as medidas como necessárias para garantir a sustentabilidade fiscal, apesar das críticas de setores que dependem das subvenções.
Em Piracicaba, o prefeito Helinho Zanatta optou pela suspensão de licitações e contratações em andamento para revisar prioridades e ajustar o orçamento. Enquanto mantinha contratos essenciais, Zanatta visava otimizar os recursos públicos e implementar políticas de austeridade.
Limeira seguiu uma estratégia semelhante, suspendendo duas licitações em andamento para reavaliar a compatibilidade com o orçamento. A gestão de Murilo Félix reforçou a necessidade de reavaliar processos licitatórios para evitar gastos não essenciais, comuns em administrações anteriores.
Essas ações visam restaurar a confiança da população e retomar o controle fiscal, mas levantam questões sobre transparência e comunicação. A falta de informações claras sobre a situação financeira gerou desconfiança e interpretadas por alguns como uma ferramenta de manipulação política, criando um cenário de “herança maldita” e alimentando o populismo eleitoral.
O desafio das administrações municipais será equilibrar o controle fiscal com a transparência, evitando usar a crise como artifício eleitoral. Embora o corte de gastos possa ser necessário, a implementação das medidas deve ser acompanhada de um esforço contínuo de diálogo com a população e de planejamento estratégico para garantir a sustentabilidade fiscal a longo prazo.
Se bem conduzidas, essas gestões podem superar a crise e assegurar um futuro equilibrado para seus cidadãos. Caso contrário, as medidas emergenciais podem comprometer ainda mais a credibilidade das administrações locais.
Fontes:
G1 – São Paulo, 1º de janeiro de 2025
Repórter Beto Ribeiro, 2 de janeiro de 2025
g1 Piracicaba, 3 de janeiro de 2025
Diário de Justiça, 3 de janeiro de 2025
Antonio Archangelo é gestor, professor e autor do livro Inovação no Setor Público.
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