Foi muito mais do que apenas rock ‘n roll. Charlie Watts partiu há uma semana, no dia 24 de agosto, aos 80 anos, deixando um legado que vai além da música. Integrante da banda mais importante e seminal do rock ‘n roll, os Rolling Stones, Watts destoou do lifestyle e sempre esboçou o perfil de comprometimento, dedicação e respeito pela música, pelos fãs e, sobretudo, pela vida.
São inúmeros os relatos de colegas e amigos de banda que descrevem o baterista como o mais sensato e um dos mais brilhantes da música, por compreender que fazia parte de um grupo, de um conjunto harmônico no qual a bateria completava a sonoridade dos demais músicos.
“Charlie Watts foi um baterista de jazz que tocava rock’n roll, mostrando que não é preciso ser virtuoso para tocar esse estilo. Se destacava de forma discreta, impassível. Contraditório ao estilo espalhafatoso dos Stones. Seu jeito único de tocar (não tocava chimbal e caixa ao mesmo tempo) foi imprescindível para a sonoridade dessa icônica banda. Espelhava elegância ao tocar e seu perfil reservado (apesar do belo soco na grande boca de Mick Jagger), culminaram em uma inteligência espacial (domínio do espaço/tempo) extraordinária, com uma firmeza e precisão absurda ao tocar, ensinando (assim como Ringo Star) que o simples é o suficiente”, avalia o jornalista e baterista Matheus Pezzotti, ao comentar sobre o músico.
O baterista da Orquestra Filarmônica de Rio Claro William Nagib Filho também ressalta o trabalho de Watts no jazz. “Desde o início dos meus estudos eu sempre admirei muito o baterista dos Rolling Stones, o Watts. E é muito legal porque ele sempre foi ligado ao jazz, ele teve várias bandas de jazz. Ele não era um cara performático, mas, era muito preciso e admirado pelos músicos de jazz, pela seriedade e pela serenidade dele. O mundo dos bateristas fica realmente, enlutado com mais essa perda irreparável no cenário musical. E eu que gosto de Rolling Stones desde o início, mesmo gostando muito de jazz, o grupo sempre fez parte da minha discografia. Fica aí, então, a tristeza pela perda desse cara que representa muito no cenário musical.”
HISTÓRICO
Nascido na capital inglesa em 1941, Watts começou a tocar bateria nos clubes de rhythm and blues londrinos no início dos anos 1960. Ele concordou em unir forças com Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards em seu grupo iniciante, os Rolling Stones, em janeiro de 1963.
Fazendo sucesso no Reino Unido e nos Estados Unidos no início com covers, a banda conquistou fama global com sucessos compostos por Jagger e Richards, como (I Can’t Get No) Satisfaction, Get Off of My Cloud e Paint It, Black e o álbum Aftermath. Watts deixou os tumultos que definiram a banda nos anos 60 e 70 aos outros membros.
No palco, ele também ficava satisfeito de deixar a extravagância a cargo de Jagger e dos restantes, enquanto ancorava a apresentação com uma sensação de competência tranquila.
Por Vivian Guilherme / Foto: Divulgação